9) PRÉ -ADOLÊSCENCIA
9) PRÉ -ADOLÊSCENCIA

Foi em 1991 ou 1992 que vi o meu corpo sofrer transformações, fiquei mais crescida com cabelos castanhos a caírem até à cintura e olhos grandes de um castanho brilhante. Fiquei menstruada e o meu corpo começou a ganhar as primeiras formas de pré-adolescente, como uma estrela, fiquei magrinha mas continuava sonhadora.

eu no ano 1992

 

 No meu caso, não me recordo bem do que me foi dito, ou ensinado sobre a menstruação, mas posso referir que a minha mãe, mais tarde, explicou-me que deveria ter muita atenção, quando tivesse os meus 14 ou 15 anos, já que agora poderia ficar grávida, ou se não tivesse os cuidados de higiene adequados poderia ficar com infecções.

 Naquela altura não me recordo se eu fui a alguma consulta de planeamento medico ou se isso já existia. Lembro-me que, a minha mãe é que me comprava os pensos higiénicos e me ensinou a colocá-los adequadamente. Sei que não foi muito fácil para mim, porque a minha mãe me relatou.

 A minha avó por exemplo não falava comigo sobre isso, apenas me indicava uma “mezinha” ou seja, uma coisa antiga, indicava-me que eu fizesse a minha higiene pessoal com o antigo sabão azul e branco, porque servia para matar bactérias. Hoje em dia, as mães explicam aos meus filhos que a menstruação e a puberdade interferem na nossa vida, o que devem fazer e cuidados a ter.

 

 Quanto aos cuidados de higiene existem muitos produtos hoje em dia (cremes, sabão liquido, desinfectantes….) para a nossa higiene, não só feminina, como também masculina. Já que eu não tenho filhas, mas sim filhos isso da higiene é para os dois sexos no meu entender, assim como as consultas de planeamento familiar, porque infelizmente, em muitas casas, ainda existe o tabu de se falar nestes assuntos. Para mim estas consultas funcionam não só como apoio, médico mas também para informar os jovens e adultos para se poder retirar as dúvidas sem pudor de se falar a vontade.

 

uma consulta de planeamento familiar

 

Também é nestas consultas que se explica o que são os métodos contraceptivos, tanto para raparigas (pílula, preservativo feminino ….) como para os rapazes (os preservativos), bem como o que são as doenças sexualmente transmissíveis (SIDA, Hepatite Sífilis….) e como nos podemos proteger. Se bem que hoje em dia este tipo de informação já esta implantada nas escolas com a disciplina educação sexual e nos próprios livros já se fala abertamente do assunto.

meios contracpetivos

 

  Também nesse foi nesse ano que transitei para o Ciclo Entrei para o 5ºano, Turma B. Um novo ciclo de vida para mim.

Tudo novo, novas mudanças, novos amigos, nova escola, novas regra, novas normas, novas aprendizagens, incluindo andar em transportes públicos sozinha. Tudo me assustava. Até essa altura sempre fui protegida e agora tinha de aprender a ser responsável, estava por minha conta. Lembro-me de me sentir perdida. Havia carros e pessoas desconhecidas e conhecidas, mas tudo era estranho para mim.

A minha adaptação até foi fácil apesar dos meus medos e incertezas. Estes medos e incertezas foram ultrapassados com a ajuda dos meus amigos, sem eu me apercebesse bem, na altura, de que me estavam a ajudar. Como éramos muitas crianças da minha rua íamos todos juntos e falávamos e brincávamos pelo caminho. Já os meus pais aconselhavam-me para não falar com estranhos, só sair na paragem exacta, não aceitar vir com outras pessoas e se eu tivesse algum problema telefonar para casa que o meu pai me ia buscar a Almeirim. Hoje em dia assusta-me só em pensar que, os meus filhos estão quase na altura de utilizar os transportes públicos, tanto mais devido à falta de segurança. Tenho receio que algo de mal lhes possa acontecer, mas também sei que são situações pelas quais eles vão ter de passar, mas como já existe uma paragem de autocarro mesmo atrás da minha residência já se torna mais cómoda a situação.

 

Por outro lado, eles só irão usar o autocarro no trajecto Fazendas de Almeirim/Almeirim por volta dos 14 anos, porque vão frequentar na Escola Preparatória da minha localidade ate ao 9º ano. No 5º ano chumbei, porque a matéria não era fácil e eu nunca fui muito de cumprir regras e obrigações. No 5º ano tive contacto, pela primeira vez, com a língua estrangeira, o inglês. Era uma língua obrigatória, ou tinha inglês ou francês. Escolhi o inglês. Cumprir os horários, numa hora tinha uma disciplina numa determinada sala, na hora a seguir outra totalmente diferente em outra sala e com professor diferente. A minha turma do 5º com o professor de Educação Visual e Tecnológica Fiz muitos amigos, com os quais muito brinquei, conversei e estudava.

 

 

a minha turma do 5º ano

A disciplina que mais gostava era a de trabalhos manuais. Adorava os trabalhos de colagens, fazer trabalhos em madeira vidro e pinturas. Deixar sair a minha imaginação e transformar em trabalhos que eram apreciados por adultos. Posso dar o exemplo de desenhos pintados em aguarelas, pinturas em vidro, trabalhos em madeira (um pássaro) ou até mesmo a elaboração de um livro que guardo ate hoje.

 

um trabalho feito em madeira

 

 

Foi no 6º ano que tive o meu primeiro contacto com um computador.

A Direcção da escola tinha acabado de equipar uma sala com computadores para os alunos desfrutarem das novas tecnologias. Lembro-me de a primeira vez que mexi num computador foi para jogar copas. Estava nervosa.

 

 

o meu primeiro contacto com pc

 

 

A minha ida e vinda era feita por autocarro.

 Foi isso que me assustou muito, tive medo e aquela sensação de frio na barriga, não sabia como agir no meio de um autocarro cheio de gente sentada e em pé. Parecia uma lata de sardinhas. Nesse autocarro, vinha muitas crianças da minha idade, com mochilas grandes e outras pessoas mais velhas. Falavam alto, baixo e riam. Como eu era novata nessas experiências andava sempre assustada.

 

 

o autocarro que ia ate ao ciclo

 

 

Como o autocarro ainda parava longe da minha casa, a minha avó ia-me buscar e a outras crianças que eram minhas vizinhas. Fazia-nos companhia, porque apesar da rua ser iluminada havia terrenos baldios, intervalados nas casas e tinhas medo de passar por ali. Hoje, as ruas são de alcatrão e com a construção da Escola Preparatória das Fazendas as estradas e os transportes públicos mudaram. Hoje existe uma paragem de autocarros, mesmo ao lado da minha casa, e existem mais autocarros, impedindo que as pessoas vão apertadas ou de pé, aumentando a segurança rodoviária. As estradas continuam com mau estado, apesar de serem alcatroadas.

 

 

 

o mau estado das estradas

 

 

 

Ao olhar para o meu tempo de estudante posso reparar que muita coisa mudou, tal como os sinais de trânsito que estão colocados em pontos estratégicos, as passadeiras estão mais sinalizadas e os passeios já não são de terra, são em calçada o que ajuda muito os cidadãos que andam a pé, ou não transportes públicos. Por seu lado, as paragens de autocarro já são cobertas, o que protege do frio, ou do sol, já não existe apenas a tabuleta a indicar a paragem que eu fui habituada a ver todos os dias.

 Em simultâneo, os autocarros de hoje continuam os mesmos, mas introduziram mais autocarros e já não é necessário os passageiros irem de pé. No entanto, considero que, na minha localidade, já que cada vez existe mais estudantes e pessoas comuns que usam todos os dias os transportes públicos, deviam de existir mais. E também por uma questão de segurança rodoviária, já que nos próprios autocarros encontra-se bem explicito quantos passageiros podem irem de pé e sentados em cada um e, por vezes, excedia-se o que esta escrito na lei rodoviária.

  Bem como já referi, os transportes aumentaram, no entanto os horários continuam na mesma desde da minha altura de estudante. Mas sou sincera o que poderiam mudar neste aspecto era a introduzir novos autocarros já que os que fazem a trajectória da minha localidade são muito velhinhos. Na altura das férias escolares retiram muitos autocarros e empresa do Vale do Tejo, sediada em Santarém, esquece-se que, nessa altura, existem muitos trabalhadores que ficam sem transportes em horas adequadas ao seu horário laboral.

 Fui crescendo como pessoa, construindo a minha personalidade e formas de expressar pensamentos.

 Ao fazer uma pequena comparação com a minha adolescência e a adolescência de hoje já são notáveis as diferenças. As raparigas querem começar, cada vez mais cedo, a ir a bares, fumar e a vestir roupas mais justas para delinearem o corpo e chamar mais cedo a atenção dos rapazes. Pesam que já são autónomas e que sabem o que querem. Quanto aos rapazes pode ver-se que cada vez são mais adeptos de jogos de computador e consolas. Já não existe aquela interacção entre rapazes e raparigas.

 

uma interaçao entre rapazes e raparigas (eu)