O dia 6 de Novembro de 1999 foi o dia de mudanças.
Levei as minhas coisas, os meus pertences para casa dos meus sogros para começar uma vida a dois, passando a ser independente dos meus pais. Estava prestes a começar uma vida com o meu companheiro. Sim, companheiro, porque até o ano que corre, não me casei, nem pela igreja, nem pelo registo civil.
um começo de vida
Vivo em União de Facto. Bem, não vou esquecer desse dia, como tantos outros que guardo na memória. São lembranças.
Eram malas de viagens e sacos espelhados pela casa da minha sogra. Ficamos a morar e a dormir no quarto de solteiro do meu marido, nem cama de casal tinha-mos, era uma cama de corpo e meio. E assim comecei outra etapa de vida com as responsabilidades de mulher casada e mãe de família. Essas responsabilidades assentavam em:
Pensar primeiro no meu filho, Pô-lo acima de tudo, todos os meus actos como ser humano serem em virtude do meu filho, e Amar incondicionalmente, não lhe deixar faltar nada.
Como mulher casada passei a ter responsabilidades em ter alguém 24h por dia a viver comigo, a trabalhar para ajudar o meu marido em casa, a fazer parte da família dele e ele da minha, existindo um respeito comum, apoiar na resolução dos problemas familiares,…
Talvez ao ter sido mãe comecei a ver que as crianças não têm a estabilidade desejada, fiquei mais sensível a esses aspectos, designadamente ao vê-los no televisão - crianças a sofrerem a serem maltratadas pelos familiares, a irem para lares e instituições e lá passarem a estudarem e viverem. Tenho um episódio na minha vida em relação a uma menor que eu tive em minha casa por ordem da Comissão de Protecção de Menores de Almeirim.
Não me quero alongar no relato deste episódio, porque teria de envolver terceiras pessoas. Unicamente vou referir que conheci de perto a Comissão de Protecção de Menores de Almeirim e a sua forma de resolver as situações em relação a menores. Para mim as assistentes sociais e a Comissão de Protecção de Menores de Almeirim levam muito tempo a averiguar as situações que, por vezes, são evidentes, e só as resolvem quando já existe o ponto iminente de revolta, ou de saturação. Por exemplo, eu mesma tentei resolver a situação com a menor em questão e as assistentes sociais não me ouviram e tentaram, durante demasiado tempo, estabelecer um bom entendimento entre a família. Não sou contra isso, mas não durante tanto tempo (2 anos). Só quando a criança estava prestes a ser enviada para um lar é que me foi entregue. Mas, só aceitei na condição de ter o documento assinado pelo Tribunal de Menores e pelos pais, já que ia ter a responsabilidade de educar essa criança, ensina-la e respeita-la, quis tudo dentro da lei. E assim foi!
os documentos da proteçao de menores
Fiquei com a menor por 6 messes, passei pelo processo de adaptação dela.
Durante esses 6 messes, eu, o meu marido e a menor andamos sob “vigilância”, ou seja, seguiam todos os meus passos, verificando se faltava alguma coisa à menor. Nunca tive quaisquer problemas com a decisão que tomamos e tudo correu dentro do previsto. Talvez essa menor tenha sido feliz na minha casa, pelo menos morou em harmonia e teve todo o carinho possível.
Mas tenho conhecimento que, nem todos os casos em Portugal têm este final. Há muitos jovens que estão sob vigilância da Comissão da Protecção de Menores e acabam por sofrer maus tratos, abandono, violações, chegando até a morrer. Quantas vezes não vi já nos meios de comunicação social crianças retiradas aos pais por maus tratos e só quando chegam as queixas feitas às entidades policiais é que a Comissão da Protecção de Menores aparece. Posso relembrar um caso que abalou Portugal, pelo menos a mim indignou-me. O caso da menina da “Esmeralda.”
Foi entregue pela mãe a uma família, talvez num acto de amor pela filha. O pai nunca ligou à filha e de repente pensou em lutar por ela, mas todos, Comissão da Protecção de Menores, policia, assistentes sociais, tribunais, todos decidiram a vida da criança, mas esqueceram-se de que as crianças também pensam e sentem. Tiraram a criança do meio em que foi criada. Pergunto se como disse o Tribunal, O SUPREMO INTERRESE DA CRIANÇA, foi tido em consideração. Vi há tempo no Telejornal uma notícia que me deixou a pensar. O tempo que as famílias de acolhimento ultrapassou as 6 messes estipulados pela lei, ou seja, a criança e a família ganham afectos e constroem uma relação de amor e respeito, depois as entidades chegam e simplesmente retiram a criança. No meu ver isso está mal planeado. O nosso Governo deveria rever o Decreto-Lei nº 147/99, artigo 46º que protege os menores em famílias de acolhimento e o Decreto-Lei que protege a família de acolhimento. Se essa criança estiver bem psicologicamente, fisicamente e emocionalmente e a família bem estruturada deveriam deixar a criança ficar com a família. Essa é a minha opinião.
declaraçao dos direitos da criança
Talvez com tudo isto possa também referir a DECLARAÇAO DOS DIREITOS DA CRIANÇA o documento em que está escrito todos os direitos da criança, que deveriam ser compridos. Eu como mãe até posso destacar alguns artigos a que dou muita importância:
Artg.6- todos devem reconhecer que tens direito a vida.
Artg.18º-os teu pais devem educar-te e procurar fazer o melhor para ti.
Artg.23º- no caso de seres deficiente tens direito a cuidados e educação especiais que te ajudem a crescer do mesmo modo que as outras crianças.
Foram tempos muito difíceis para mim, porque estava habituada a ser livre e a ter a minha independência, a minha liberdade. Tudo isso se acabou. Por entre hábitos, responsabilidades acrescidas e mudanças bruscas, a minha barriga foi crescendo. E desde logo a aprendi a amar o meu filho.
O meu corpo de adolescente sofreu transformações…. Passei a ter uma linda barriga redonda e engordei alguns gramas, sim gramas porque a minha fisionomia não deixa que eu engordar. O meu corpo mudou, mas o meu jeito de menina brincalhona e nariz no ar, permaneceu.
Sou sincera e reconheço que, o meu companheiro também já passou por algumas situações desagradáveis por causa do meu feitio. Esse nunca mudou, nem com o passar dos anos. Mesmo depois de casada o meu feitio de explodir com a mínima coisa que não me agrade, ou disser o que penso na hora já trouxe alguns dissabores.
O meu companheiro é muito mais calmo que eu e não lida muito bem com o meu feitio.
Por exemplo, ele gosta de estar com os amigos, eu, por vezes, não gosto muito deles e digo o que penso. Assim os meses foram passando e os acontecimentos sucedendo. A barriga sempre a crescer e o meu corpo em eternas mudanças derivado à gravidez..
As mudança que mais senti foram os peitos a crescerem bastante, porque de resto não engordei, ou ganhei estreia - aquelas pequenas marcas que as mulheres grávidas ganham, Cuidados com alimentação não tive, apenas cortei mais nos sumos com gás, nos morangos, ou nas laranjas, porque o médico informou-me que esses alimentos provocavam cólicas ao bebé, mesmo ainda dentro da minha barriga. As análises de sangue para ver se estava tudo bem eram feitas no Hospital. Lembro-me da primeira ecografia que fiz no Hospital. Ver o coração do meu filho a bater, o tamanho dele, vê-lo com a mão na boca,… Fez-me confusão como era possível através de uma maquina verem o que se passa dentro da minha barriga
uma ecografia da minha gravidez
Hoje em dia, já e existem as ecografias a três dimensões, ou seja, já se pode ver a cor dos olhos, o rosto da criança
uma ecografia a três dimensoes
A minha sogra, nessa altura, ajudou-me muito. Amou-me como uma filha. Deu me muitos conselhos e carinhos. Aqueles carinhos que eu gostaria de ter da minha mãe ou do meu pai e que não tive. Eu ajudava a minha sogra ao fazer-lhe companhia e ela a mim, ao cuidar de uma menina que à força virava mulher.
a minha sogra
Ela já era uma senhora de idade, mas totalmente diferente da minha avó. Tinha uma visão do mundo diferente, uma mente aberta, não era de se deixar guiar pelos hábitos ou ideias de outros tempos. Ela vivia o mundo de hoje, e mantinha-se informada sobre o mundo actual. Talvez por isso, sempre admirei a minha sogra e tive tanto carinho por ela. Ela não viu a minha gravidez como uma tristeza, viu-a como uma bênção.
Nunca a ouvi reclamar quando, em solteira, eu estava no quarto do meu namorado. Também não reclamava se eu saía de casa e vinha tarde, até porque só saía com o filho dela. Deu-me bons conselhos sobre a minha forma de agir, ensinou-me a cozinhar. Assim, a minha sogra e avó eram da mesma idade, Mas tinham mentalidades muito diferentes. Foi ela que me falou sobre a gravidez e tirou-me as dúvidas que tinha.
Naquela altura, já existiam as consultas de preparação para o parto, mas nunca fui encaminhada para elas. Talvez ai a minha sogra tenha tido um papel fundamental ao dar-me os conselhos e explicar-me como seria, mais ou menos, o parto, como eram as dores, o rebentar das águas,,… Assim, foi passando o tempo, até o dia mais inesquecível da minha vida chegar. O dia em que tudo, mas mesmo tudo mudou…Talvez seja o dia mais especial da minha existência.
preparaçao para o parto